Por Larissa Leiros Baroni
Em 1963, pela primeira vez, o Brasil disputou o prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar, com "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte. Depois de um jejum de 33 anos, o País voltou, em 1996, à festa norte-americana com "O quatrilho", de Fábio Barreto. O filme abriu portas para uma nova geração e, em 1998, foi a vez de "O que é isso Companheiro", de Bruno Barreto, seguido de "Central do Brasil", de Walter Salles (1999). Em 2002, "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, conseguiu, pela primeira vez, colocar o Brasil na disputa dos prêmios técnicos, com indicações para Melhor Direção, Melhor Montagem, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia. Mesmo com tantas participações, não foi possível obter uma vitória.
Vencer um festival internacional só para enfeitar a estante não faz muito sentido e, muito menos, recompensa todo o investimento despedindo na produção de um filme. Para o professor de Cinema da UFF (Universidade Federal Fluminense), Tunico Amansio, a visibilidade é o principal prêmio dessas grandes festas. "Trata-se de uma porta de entrada do cinema nacional para o mundo. Uma maneira de o Brasil mostrar o que tem feito e, ainda, divulgar o seu potencial ao setor internacional", garante. Para Amansio, essa nova forma de fazer propaganda (com pouca verba) tem surtido bastante efeito. "Ela é boa para fortalecer a imagem dos países participantes e, principalmente, para aumentar as possibilidades de expansão da veiculação dos filmes concorrentes nos quatro cantos do planeta", ressalta.
Não há dúvidas de que a conquista de um prêmio ou de uma menção honrosa em um festival internacional amplia a visibilidade e as oportunidades. Esse é o caso do filme "Cidade de Deus", que após sua participação ovacionada no Festival de Cannes, ganhou espaço de veiculação em salas de cinemas de diversos países.
De acordo com o ator e diretor José Wilker, por falta de espaço no próprio mercado interno, os festivais estrangeiros se tornaram parte da carreira dos filmes brasileiros. "No Brasil, só existem 2.000 salas de cinema. Além de poucas, a maior parte delas é ocupada por filmes hollywoodianos e os brasileiros acabam ficando para escanteio. A alternativa, então, é participar dessas grandes festas", explica. Uma questão que, para o diretor, é paradoxal. "Fazemos muito sucesso lá fora e não somos nem conhecidos dentro do País", lamenta.
Assim, muitos diretores aproveitam a repercussão internacional para expandir suas obras no próprio país. "O 'Central do Brasil' foi lançado aqui com uma visibilidade bastante tímida. Só depois do Festival de Berlim, com o relançamento do filme nos cinemas, é que ele explodiu em território brasileiro", relembra o professor Barone.
Além disso, os festivais internacionais funcionam como uma vitrine aos caçadores de talentos. "As principais festas estão rodeadas por diversos profissionais envolvidos no setor cinematográfico", confessa o crítico Mattos. Não é à toa que Rodrigo Santoro, Alice Braga e Sônia Braga, artistas brasileiros, já atuam em superproduções norte-americanas. E a busca por profissionais não se restringe a atores. O diretor Fernando Meirelles também ganhou o seu espaço no cenário internacional e, depois de "Cidade de Deus", teve a oportunidade de dirigir o filme "Jardineiro Fiel" com a participação de atores de grandes produções norte-americanas. Para consolidar a presença do Brasil no mercado internacional, o crítico Mattos acredita que é preciso fazer um trabalho de formiguinha. "Percorrer festival por festival, durante todo o ano", diz. Mas, para ele, não se pode acompanhar essa trajetória como se fosse uma Copa do Mundo. "Sentimentos nacionalistas, de dizer que é preferível ganhar um festival com um filme ruim do que não ganhar nada, devem ser deixados de lado", conclui.
Fonte: http://universia.com.br/materia/imprimir.jsp?id=15419
26/08/10 às 15:23